Chuva e Vento
Há muita coisa ao nosso redor que habita uma espécie de limbo das atenções, toda uma vida que pulsa na superfície das coisas, nos pequenos gestos, no ínfimo. Nessa série, produzida a partir da janela do carro, o espetáculo do tempo se revela numa coreografia de linhas e cores, em microdramas da forma. Sobre a superfície do vidro, a paisagem parece perder sua consistência material, diluindo-se num jogo de luz e sombras abstratas. Um mundo imprevisível emerge, então, dessas imagens sem profundidade. As gotas de chuva transformam a natureza em traço espectral e convidam o espectador a distender seu olhar, a se perder na imagem, contemplando paisagens sutis e transitórias. Uma sutileza de afetos inscritos nos pequenos detalhes, na pele das coisas. Uma poesia do nada. Uma aposta no acaso, no encantamento do mundo pelas grandezas do ínfimo.